Uma pós graduação ajuda o líder de TI a interagir com ambientes da empresa. Aumenta a eficiência do executivo em TI na hora de negociar.
Por Julia King, da Computerworld/EUA
O fato dos CIOs da Procter & Gamble, da Microsoft e do Wal-Mart não terem feito um MBA (Masters Degree in Busniess Administration), uma etapa da pós graduação entre a especialização e o mestrado, demonstra que tal graduação não é uma condição sine qua non, indispensável para alcançar um cargo relevante em meio à indústria de TI.
Mas, francamente, a ideia não é má e faz especial sentido em caso de profissionais de TI com conhecimento técnico apurado, com vistas a incrementar o tino comercial. A razão é bastante simples: apesar de ser o líder da TI, o CIO não responde exclusivamente pelos aspectos técnicos do departamento. Sua atribuições incluem avaliar projetos pelo prisma comercial e viabilidade econômico financeira.
Um MBA, aliás, é uma sugestão bastante razoável para outros profissionais, como gerentes de projeto e analistas comerciais, que queiram galgar posições mais elevadas em suas áreas de atuação.
Mudança de atribuições?
O ex-CIO da General Motors e da Texas Instruments, Ralph Szygenda, afirma que os CIOs deixaram de responder exclusivamente pelo desenvolvimento tecnológico e passam a integrar as operações que alteram a essência das empresas.
“Nos últimos dez anos era possível se destacar com base em um vasto conhecimento técnico, pois a maioria da ações dos CIOs era voltada à integração de Data Centers. Foi um período muito bom para esses profissionais. Assim que esse movimento passou, novas qualificações passaram a ser importantes para os CIOs”, resume Szygenda.
O próprio Szygenda não tem um MBA, assim com o a maioria dos colegas de profissão. Todavia reconhece a importância em gerar interesse e em capacitar os colaboradores na obtenção de tal certificado.
Investimento
Acontece que voltar ao banco de aulas significa um investimento que pode chegar aos 50 mil dólares anuais, e a graduação de MBA costuma levar até dois anos. E não existe garantia de a empresa promover um profissional somente com base em sua formação teórica.
Um MBA não é a única maneira de alcançar o conhecimento crítico e experiência comercial. Há alternativas que podem desenvolver o profissional de TI nesses aspectos. Uma maneira é participar por tempo limitado em diferentes áreas da empresa, de marketing até a logística e o relacionamento com a cadeia fornecedora. Acontece que tal desenvolvimento leva anos. O fator tempo pende em favor da adesão ao curso; em dois anos boa parte das lições são aprendidas.
À frente do departamento de TI da Matson Navigation, o CIO Peter Weis admite que a formação tradicional dos CIOs não prevê foco em aspectos financeiros. “Tem pouco a ver com o jeito dos CFOs e dos CEOs pensarem”, diz.
Weis acredita que estudar casos de negócios para aprender as rotinas comerciais e dedicar horas por dia ao raciocínio sobre a dinâmica dos negócio na empresa, faz parte das atribuições do CIO moderno. Aos 40 anos, Weis decidiu retornar à sala de aulas para graduar-se na Wharton School of Business, no estado norte-americano da Pensilvânia.
Unir as atividades profissionais com a graduação, porém, não é tarefa fácil. “É o maior desafio que já encarei”, diz Weis. A empresa em que trabalha assumiu os custos da graduação, mas exigiu que, a cada dois dias que Weis se dedica aos estudos, seja descontado um dia de suas férias.
Por dois anos, Weis trabalhou em período integral e assistiu às aulas em finais de semana duas vezes ao mês. “Finais de semana livres, eram dedicados integralmente aos estudos, enfim , foi um compromisso de dedicação exclusiva”, lembra.
“É uma luta constante na tentativa de equilibrar as atividades de trabalho com a demanda dos estudos. Sempre cuidei para não deixar que meus estudos interferissem no desempenho na empresa”, continua. “Também não houve qualquer incremento do meu prestígio profissional entre os líderes da Matson, muitos destes já haviam conquistado seus diplomas de pós graduação em universidades altamente reconhecidas”.
O colunista da Computerworld dos EUA, Paul Glen, não acredita que um MBA seja fundamental para incrementar as habilidades de relacionamento comercial ou de liderança. O próprio Glen detém o diploma emitido pela Kellogg Graduate School of Management, mas afirma que os casos abordados nas aulas podem ajudar os participantes do curso a pensar de forma diferente. “Mas jamais encontrei alguma aula que ensinasse a pensar de forma inovadora”, ressalta.
“O que acho positivo nesses cursos, é o fato de as pessoas aprenderem como pensam os outros”, continua Weis. O executivo conta que os programas de MBA têm foco predominante em métodos de raciocínio tradicionais. O que não é a melhor coisa. “O profissional sai do curso com a mentalidade de um CIO, mas, se for um gerente de projetos, não terá espaço para aplicar o que aprendeu, pois suas atribuições são outras”, esclarece Weis.
Ao relacionar as vantagens do curso, Weis afirma que as aulas o conectaram com a realidade financeira, de marketing e operacional. “Agora consigo enxergar determinadas questões a partir da perspectiva de meus parceiros”, diz. Para o executivo, tal aperfeiçoamento foi útil na hora de gerir grandes contas e projetos concorrentes e na hora de negociar com fornecedores de TI.
ROI
“Por mais incrível que pareça, aprendi técnicas de negociação”, informa Weis. CIOs passam, tranquilamente, 50% de seu tempo em negociações com fornecedores. Mesmo assim, raramente são instruídos sobre como lidar com eles. “Depois do MBA, eu consegui reduzir um orçamento de um fornecedor em 30%. Argumentei na empresa que tal desconto pagaria 20 vezes o que investiram em minha formação”.
Aumentar o nível
James Dallas, vice-presidente sênior de qualidade e de operações da empresa Medtronic, acha que o discurso na hora de persuadir empresas a investir em qualificação passa justamente pelo que Weis menciona. “As companhias estão interessadas em retorno e, se o profissional souber argumentar em que momento sua qualificação ajudará a aumentar o retorno financeiro da organização”, diz, “poderão negociar melhor”.
Antes de se matricular pela Goizeta Busniess School, da Universidade Emory, nos EUA, o executivo diz que tinha bons conhecimentos sobre tecnologia e execução de projetos. Distante dez anos desde sua saída da faculdade, o MBA o ensinou a “apreciar a corporação nos aspectos do modo de negócios e pontos chave na estrutura organizacional".
Segundo ele, o MBA o ajudou a decidir melhor sobre ações em determinados projetos e o que esperar à medida que os dois amadurecem. No final isso ajudou a aumentar nossa capacidade de concorrer em nichos altamente especializados”.
Conclusão
“Os CEOs procuram por CIOs com visão comercial, alguém que some e não se limite a gerir seu departamento. Faz tempo que os CIOs são encarados como suporte do core business da organização, e não apenas aceleradores de processos”, resume Dallas.
Fonte: CIO Carreira