quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Felicidade é bem estratégico na carreira de executivos de sucesso. Livro inédito traz depoimentos de importantes profissionais e empreendedores brasileiros sobre o tema.
Por Léa de Luca

Por mais subjetiva e difícil de definir, a felicidade nunca foi tão debatida. Antes restritas a consultórios psiquiátricos, mesas de bar, telas de cinema e faculdades de psicologia, as discussões ganharam a atenção de economistas e passaram a frequentar, até, salas de aula de escolas de negócios como a Harvard Business School.

Além de fundamental para a vida pessoal, a felicidade agora é considerada um bem cada vez mais estratégico para a vida profissional, para os países e para as próprias empresas. Mas, o que é felicidade para as empresas e executivos brasileiros de sucesso? Foi o que o jornalista Alexandre Teixeira decidiu investigar há cerca de um ano.

Para escrever o livro "Felicidade S.A", colheu depoimentos de Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, Elcio Anibal de Lucca, ex-presidente da Serasa, Fabio Barbosa, ex-presidente do Santander, hoje presidente da Editora Abril, Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, Luiz Ernesto Geminiagni, ex-presidente da Promon, Luiz Seabra, fundador e presidente do conselho de administração da Natura, Roberto Lima, ex-presidente da Vivo, Sandro Bassili, vice-presidente de gente e gestão da Ambev, Sergio Chaia, presidente da Nextel, e Wellington Nogueira, fundador e líder da ONG Doutores da Alegria.

"Felicidade no trabalho tem a ver com a busca de um propósito. Hoje, encontrar um sentido maior para as coisas que fazemos no trabalho é mais difícil do que receber dinheiro. E quanto mais escasso um bem, mas valioso", lembra. Ele também descobriu que o ditado ‘dinheiro não traz felicidade' está, ao menos parcialmente, correto.

"Até determinado nível de renda, o dinheiro é combustível para a felicidade; depois disso, não mais". Nos Estados Unidos, por exemplo, o psicólogo Daniel Kahneman (único a ganhar um Premio Nobel de Economia), após acompanhar por um ano cerca de 500 mil americanos descobriu que esse nível é equivalente a US$ 75 mil por ano, em média - uma renda de aproximadamente R$ 12,7 mil por mês no Brasil.

O mesmo seria verdadeiro para sucesso e poder, que alimenta a felicidade até um determinado ponto - bem mais difícil de medir. Chaia, da Nextel, sonhava ocupar o cargo de presidente antes dos 40 anos - conseguiu, aos 37, presidir a Sodexho. Hoje, com 46, é seguidor do budismo e tem uma visão diferente.

"O Lama [um líder espiritual budista] me disse: 'Você é muito inteligente e pouco sábio. Sua inteligência é grosseira, é só raciocínio rápido, capacidade de descobrir o que agrada ao outro. Isso reforça seu ego e o afasta da verdadeira sabedoria, que é a capacidade de ter a consciência das coisas e escolher corretamente", disse em seu depoimento a Teixeira.

"Não precisamos submeter o indivíduo a provações, a uma vida ruim, para ele mostrar que é bom, para enrijecê-lo nas dificuldades", disse Abilio Diniz. "Odeio sacrifícios, seja para mim ou para os outros. As pessoas têm de trabalhar, apresentar resultados, ser pragmáticas, mas têm de fazer tudo isso com alegria."

Fábio Barbosa é adepto da gentileza: "Eu aposto que cativar as pessoas cria um mundo melhor e funciona. Coitadas das pessoas que vivem dando porrada nas outras e acham que isso é necessário para fazer as coisas acontecerem. Todos gostamos de ser acolhidos, valorizados, reconhecidos."

Seabra, da Natura, também disse que aprendeu com o tempo. "Nos primeiros anos como empreendedor, me senti ausente da vida dos meus filhos. Quando me dei conta, tinham crescido", afirmou. "Aos poucos, fui compensando a ausência dos primeiros anos. Confiem no tempo, não o vejam como inimigo", aconselha.

Para Teixeira, felicidade no trabalho é, ainda hoje, o aspecto mais negligenciado do debate sobre sustentabilidade. "Faz sentido para uma empresa se preocupar com o meio ambiente enquanto seus funcionários vivem existências infelizes dentro delas?"

Fonte: Brasil Econômico

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