sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Saiba como adotar novas tecnologias e conseguir resultados significativos
Por Cezar Taurion, diretor de novas tecnologias aplicadas da IBM Brasil e editor do primeiro blog da América Latina do Portal de Tecnologia IBM DeveloperWorks

Há poucos dias, terminei de ler um relatório do Gartner, CEO Survey 2012: The Year of Living Hesitantly, no qual cerca de 300 CEOs do mundo inteiro foram questionados sobre diversos assuntos relativos ao cenário de negócios e ao uso de TI. Pensei muito sobre as conclusões do relatório e tive insights que gostaria de compartilhar aqui.

O relatório deixa claro que os executivos pensam positivamente quanto ao investimento em TI, e que temas como mobilidade e Cloud Computing, estão chamando sua atenção.

Um desafio que eles enfrentam é como adotar novas tecnologias e conseguir resultados significativos. Implementar uma nova tecnologia por si, desconectada dos desafios e visões estratégicas, bem como das mudanças que podem provocar nas políticas, processos e mesmo cultura das organizações, não traz resultados positivos e deixa os CEOs na defensiva.

Por que investir nessa ou naquela tecnologia sem saber o que ela trará de resultados para o negócio? Eventualmente, ela embute mais riscos que benefícios e a conta, não fechando, cria uma barreira contrária a investimentos em novas tecnologias. Os CEOs, muitas vezes por questões de barreira de linguagem com seus CIOs, não conseguem captar as disrupções que determinadas tecnologias como Cloud Computing, Big Data ou mobilidade trazem, e as encaram de forma tática e não estratégica.

E aí surge um ponto que me deixou intrigado: a pesquisa revelou que os maiores “trusted advisors” dos CEOs são os CFOs, geralmente avessos a inovações. Os CIOs aparecem muito longe neste ranking .

Além disso, para os CEOs do universo pesquisado, os CIOs não estão entre os líderes de inovação nas suas empresas. Na frente deles, estão os próprios CEOs, os executivos seniores, os gestores das BU (Business Units) e outros executivos. Os CIOs aparecem na oitava posição. Pior ainda: quando perguntados como veem os seus atuais CIOs no futuro, apenas um em 200 CEOs acredita que eles possam eventualmente ser seus sucessores, ou seja, os novos CEOs.

E ainda, 40% dos CEOs veem que, no futuro, os seus CIOs serão CIOs em outra organização na mesma indústria, e quase 16% os veem ainda como CIOs, mas em outras indústrias. Apenas 18% enxergam o CIO como um futuro líder de alguma área de negócio na sua empresa. Essas respostas expõem um fato preocupante: o CIO pode ir para um concorrente sem fazer maior diferença para o negócio!

Essa questão me parece que deve ser intensamente debatida. É uma visão errada dos CEOs ou os próprios CIOs é que não estão conseguindo mostrar que fazem diferença nas suas empresas? Para ajudar no debate, há um ponto importante: das empresas pesquisadas, apenas 38% posicionam a área de TI ligada ao CEO. A maioria coloca TI debaixo do CFO ou COO. Ora, sob o CFO, o papel básico de TI é operacional e gerar informações para operação diária do negócio, com ênfase em informações financeiras.

As prioridades são controle de custos e a área é vista como operacional, e não estratégica. Sob o COO, o quadro não é muito diferente. É uma área de suporte, e não estratégica. Interessante que a maioria dos CEOs entrevistados não reclama do alinhamento de TI com o negócio, mas entende que TI apenas cumpre adequadamente o papel de estar alinhado com o dia a dia da empresa, não criando novas oportunidades ou liderando processos de inovação. Portanto, buscar alinhar TI com o negócio é mera obrigação. Se ainda não estiver alinhado é porque algo muito errado está ocorrendo.

Por que isso acontece? Em minha opinião, muitos CIOs têm formação puramente técnica, com conhecimento limitado do negócio. A própria formação dos cursos de tecnologia se concentra na qualificação técnica, deixando de lado aspectos fundamentais como desenvolvimento comportamental ou fundamentos de gestão estratégica. Uma nova tecnologia que possa criar uma disrupção demanda a criação de um business plan, e essa é uma das disciplinas que passam ao longe das ementas dos cursos de TI. O resultado é que muitos CIOs se dedicam pouco à compreensão mais ampla das origens dos problemas, se dedicando a resolver problemas operacionais do dia a dia à medida que eles aparecem. Não buscam a origem do problema e, portanto, não sugerem formas inovadoras de resolvê-los.

O que os CIOs devem fazer? Obviamente, não existe uma resposta única. Se a empresa em que ele atua compete por custos, como em uma indústria de margens baixas, intensiva em ativos e/ou de produtos altamente comoditizados, é claro que o objetivo principal do CEO é manter os custos no patamar mais baixo possível. Como TI pode ser inovadora em uma indústria desse tipo, geralmente avessa a riscos? Tornando-se muito mais eficiente, posicionando-se como uma “empresa” provedora de serviços de alta qualidade e baixos custos.

Podemos olhar como alternativa viável o uso da computação em nuvem. Cloud computing permite sairmos do modelo de capex (custo de capital) para opex (custo de operação), e nos permite melhor controle dos gastos. Paga-se pelo uso, e o billing das áreas de negócio pode ser mais refinado em sua contabilização. TI pode se posicionar como um broker, otimizando sua capacidade de gestão dos recursos computacionais, usando nuvens privadas e/ou públicas.

Já para empresas mais afeitas a riscos, em setores mais competitivos e que inovação é fundamental, TI pode se posicionar como uma unidade de negócio, colaborando para gerar receitas com novos serviços e produtos. Nessa posição, o CIO tem papel estratégico, e o sucesso da área de TI é medido pelo resultado do negócio e não apenas por custos. O CIO torna-se um “CEO”, ou seja, um executivo que lidera uma unidade de negócio com metas e objetivos de receita muito claros. TI passa a ser integrado ao negócio tão profundamente quanto o financeiro. O CIO passa a ser um “trusted advisor” e a sigla se transforma em Chief Innovation Officer.

Fica então a questão: qual será o papel de TI e do CIO nos próximos anos? Não me parece que em dez anos a área de TI será igual a que vemos hoje. Tecnologias e conceitos disruptores, como cloud computing, Big data, mobilidade, BYOD, Social Business e Internet das coisas, sejam movimentos poderosos demais para serem barrados nas portas das empresas e das áreas de TI. Vão mudar as empresas, vão mudar o papel de TI e vão mudar o papel do CIO. E temos de dar agora o primeiro passo para chegarmos a esse futuro.

Fonte: CIO Opinião

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