sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Considerado atípico para diversos economistas, 2012 trouxe desafios à gestão dos executivos, que precisaram se adaptar as mudanças de cenário e à não concretização das projeções de crescimento
Por Paulo Gratão

Poucas eram as evidências de que 2012 não seria um ano próspero para a tecnologia da informação, em todos os setores da economia. Com a perspectiva de um crescimento acelerado, estava praticamente certo de que muitos projetos aconteceriam ao longo do ano e haveria até espaço para iniciativas congeladas em outras ocasiões. Até porque, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) de 2011 ficando em 2,7% – uma desvalorização brusca, quando comparado aos 7,5% de 2010 -, a indústria automobilística, por exemplo, seguia bem: medidas governamentais beneficiaram as montadoras e concessionárias, que incrementaram seus volumes de venda.

Mas o que era para ser um céu de brigadeiro se converteu em um tempo instável, com nuvens que surgiam e desapareciam em diversos momentos. É verdade, também, que o cenário atual ainda é fruto da crise financeira de 2008, que inverteu os papéis no jogo da economia mundial. Grandes lideranças sofreram com recessões e países emergentes, como o Brasil, mostraram sua força com a ascensão da nova classe média, que transformou a pirâmide das classes sociais em um losango, com a valorização da moeda e o aumento do consumo das famílias. “Claro que essa conquista da credibilidade internacional ocorreu com o prejuízo de o País permanecer por muitos anos sem crescimento econômico satisfatório e desequilíbrio monetário, como a hiperinflação”, avalia Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating.

Apesar de 2011 ter sido razoavelmente melhor, 2012 não foi tão ruim. A previsão de Agostini é que 2013 será o ano da estabilidade nas economias. Estados Unidos e Europa podem levar ainda mais dois ou três anos para apresentar uma melhora significativa.

Justamente por prever a situação caótica que assombraria as economias internacionais, a área de tecnologia da Tejofran não sonhou alto com os investimentos para 2012. “Tínhamos uma perspectiva de que o cenário seria fortemente influenciado pelas crises europeia e norte-americana. Assim, as ações em 2012 deveriam ser mais conservadoras, porém, sem perder mercado e focar em áreas específicas e grandes clientes”, comenta Erlen Abatayguara, gerente de tecnologia da informação da Tejofran.

Já a Ford, diante de um cenário otimista, era uma das companhias que tinham uma boa perspectiva. “Nossa projeção para 2012 era de um contexto positivo baseado em importantes lançamentos globais na região, e as atividades de TI da Ford estiveram focadas nisso. Alinhados ao programa estratégico de modernização de produtos, a estrutura e serviços ligados à área também demandaram investimentos, como: WAN, LAN, mainframe, servidores, PCs, impressoras, telefone, etc”, comenta Edson Badan, diretor de TI da Ford América do Sul.

Entre os maiores desafios da montadora ao longo de 2012 estava a implantação de ferramentas corporativas que atendessem globalmente e auxiliassem a estratégia para os lançamentos dos produtos. Gestão assertiva e integrada foi a solução que a companhia encontrou para isso. “Com o apoio e participação de times multifuncionais de diversos países, as etapas do plano seguiram rigorosamente o cronograma estabelecido e o orçamento aprovado, seguindo as diretrizes do One Ford, que guia todas as ações da Ford”, afirma.

Com mais cautela, os planos da Tortuga para 2012 incluíam a ampliação da mobilidade corporativa, a virtualização, a expansão de cloud computing e SOA. Diante das incertezas que rondaram a economia, cerca de 50% do que foi projetado saiu do papel. “Priorizamos o que nos daria retorno imediato, como a mobilidade que precisava ser ampliada em questões de colaboração. Aquilo que traria resultados futuros nós crescemos menos. SOA nem iniciamos”, explica Valdemir Raymundo, gerente de tecnologia corporativa da Tortuga.

Outro investimento importante da Tortuga em 2012, apontado pelo CIO, foi a gestão de documentos. A solução permite que a empresa trabalhe com mais inteligência, não perca os prazos de vencimentos e reduza significativamente o uso do papel. O executivo apresentou o projeto em setembro, para a premiação “As 100+ Inovadoras no Uso de TI”, realizado pela IT Mídia, que reconheceu a Tortuga na categoria de Agropecuária. “Para 2013 esperamos entrar, cada vez, mais na redução de custos e sustentabilidade”, afirma.

Reação em cadeia

Mas antes de partir totalmente para 2013, ainda existem pontos deste ano que pedem atenção especial. A pressão do governo pela queda de juros bancários é um exemplo. A iniciativa abalou as estruturas das instituições financeiras e isso influenciou indiretamente seus fornecedores e investidores, incluindo tecnologia. Com menos verba no caixa, era preciso cortar custos. “A redução da taxa de juros beneficia indústria e comércio, mas prejudica investidores”, avalia Antonio Toro, sócio da PwC.

Abatayguara, da Tejofran, avalia que, não apenas a queda dos juros, mas a questão cambial influenciou e muito o mercado de tecnologia, justamente, por ser uma área prestadora de serviços. “A área de TI é muito direcionada pela situação econômica, uma vez que o budget (que é fixado em reais) é diretamente afetado pela variação cambial. Com a subida do dólar, acaba por perder valor. A máxima entregar mais com menos passa a ser ainda mais incisiva”, pontua.

Apesar disso, nem tudo o que foi investido no otimismo generalizado de 2012 foi perdido, na visão do sócio da PwC. “O ano passado terminou com uma perspectiva muito boa e isso foi sendo amainado ao longo de 2012. Significa que aqueles crescimentos que eram esperados, na melhor das hipóteses, serão apenas postergados, e não perdidos totalmente, pois temos um cenário flexível, que tolera decisões.”

O ano com percalços não mudou os planos da Ford. A empresa manteve os planos de investimento, mesmo com todas as mudanças no cenário econômico. “Apesar de um ambiente competitivo mais intenso, não alteramos o nosso plano de investimentos no Brasil, do qual faz parte a área de TI, e que prevê um aporte de R$ 4,5 bilhões de 2011 a 2015”, afirma Badan.

Apesar das intempéries, Abatayguara, da Tejofran, avalia que o ano foi mais atípico para economia que para a TI. Segundo o executivo, a área está acostumada a trabalhar com variações impostas por fatores monetários, novas tecnologias, diretrizes definidas pelo boarding e, agora, de uma forma ainda mais forte, o desafio do traga seu próprio dispositivo (Byod, da sigla em inglês). “Se eu tivesse que escolher um assunto para definir 2013, diria que o Byod é um dos mais importantes, pois demonstra que os usuários estão mudando drasticamente e assumindo um novo papel. Estão saindo de uma posição passiva e reativa para uma posição fortemente ligada aos negócios da empresa”, comenta.

Quanto ao papel da tecnologia da informação nos negócios, Raymundo, da Tortuga é otimista. “O perfil de TI dentro das empresas mudou totalmente. Antes era um limbo e agora é parte estratégica, um parceiro para alavancar negócios. Tem que ser dinâmica e agregar valor aos negócios da empresa”, afirma.

Fonte: InformationWeek

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