terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Diante do tão falado apagão de mão de obra do setor, gestores de TI precisam trabalhar na retenção dos profissionais que se encaixam e participam da transformação do negócio. Mas isso envolve uma nova compreensão sobre o papel da área nas empresas
Por Gilberto Pavoni Jr | especial para InformationWeek Brasil
O tão falado apagão de mão de obra – que não é exclusivo de tecnologia da informação – é uma questão que tem desafiado fortemente o desenvolvimento do País. E o problema é que soluções para isso só geram resultados no longo prazo. De forma geral, executivos e especialistas concordam que o Brasil ainda é precário em vários aspectos de educação e o problema vem desde a formação escolar básica, com pouca ênfase em matemática. Passa ainda pelo ensino secundário baseado na “decoreba” e permeia a alta desistência nos cursos superiores da área de exatas. Sempre acompanhando esse quadro, está a carência do aprendizado de outros idiomas, principalmente o inglês.
O cenário se torna mais complexo porque a TI tem perdido o glamour e sofre a concorrência de vagas abertas em outros setores em tempos de queda de desemprego. Os jovens veem boas oportunidades em segmentos aquecidos como varejo, publicidade, petroquímico, e mesmo espaço para montar o próprio negócio com as facilidades de financiamento e oportunidades de mercado. “A TI tem errado no discurso nos últimos anos e precisa entender o próprio mundo que ajudou a criar, com tecnologia fácil e em todos os lugares”, alerta o diretor de Tecnologia e Informação da Universidade Metodista, Davi Betts.
O próprio departamento da instituição mudou a nomenclatura para se adaptar aos novos tempos. “Não é mais ‘tecnologia da informação’ é ‘e-informação’, porque é sobre isso que as coisas são agora”, explica. A diferença é sutil, mas mostra que o foco da TI não está mais em softwares e hardware. É uma nova camada em cima de tudo que foi construído e envolve pessoas, conhecimento e atitudes.
Trabalhadores de TI desse novo mundo não lidam mais somente com manutenção, help desk e envio de relatórios a toque de caixa para executivos das áreas de negócio. Esses profissionais estão ao lado dos demais departamentos para evitar que essa correria aconteça. Em alguns casos, antecipam as demandas e surpreendem a empresa com um projeto novo que pode mudar os rumos dos negócios. “Os novos trabalhadores querem envolvimento e perspectiva de crescimento, dele e da companhia, é isso que os segura e faz com que uma empresa não precise ficar a todo momento procurando novos profissionais”, aponta Betts.
O conselho se encaixa perfeitamente em um estudo recente da consultoria global de recrutamento Hays. De acordo com o levantamento, o maior índice de insatisfação dentro de uma empresa é a falta de perspectiva de carreira (21%). Em seguida surgem a falta de perspectiva em relação ao desenvolvimento da própria companhia (20%) e do setor como um todo (14%). Por outro lado, o motivo de maior satisfação é a existência de desafios constantes (61%), seguido de integração com a equipe e ambiente corporativo (50%), reconhecimento e chances de promoção (ambos com 47%). O salário aparece nas últimas posições em ambos os casos.
“Uma remuneração maior costuma comover funcionários operacionais, mas a TI tem cada vez mais necessidade de profissionais completos e eles se interessam exatamente por esses aspectos destacados na pesquisa”, aponta o gerente da área de TI da Hays, Henrique Gamba. Ele é outro que concorda que a TI tem errado no discurso, embora tenha tudo para mudar isso.
Os profissionais de hoje querem desafios; a TI pode iniciar projetos de inovação em qualquer área e a qualquer momento. Eles querem perspectivas amplas de crescimento; a TI pode direcionar equipes multidisciplinares, internacionais e com foco em soluções que vão de um processo básico à uma nova estrutura de e-commerce. Eles não se interessam pela TI antiga; a área é primordial para ajudar nas novas soluções de inteligência para o marketing, relacionamento, vendas ou pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Mas, para isso, a TI tem que deixar de ser TI. Ou pelo menos ser o departamento que, ao receber uma demanda por BI, pensa apenas nos problemas de geração de relatórios, em vez de se perguntar se todos que irão lidar com o sistema têm conhecimento de técnicas de administração e se não seria interessante implantar o ensino a distância na companhia. A TI tem que parar de pensar só na tecnologia e pensar nos resultados da solução. “Tem que ser pessoas, processos e negócios, é algo que se fala há muitos anos, mas pouco se faz”, diz o atual gestor de RH da W. Torre, Paulo Garcia, que, até recentemente, respondia pela TI da companhia e possui ampla experiência no setor.
A construtora não teve medo de mudar. Se era pra não se preocupar com a parte tradicional e operacional de TI, ela transferiu o que pode para parceiros. A terceirização é uma regra e o uso da nuvem uma aliada. O data center é externo, o suporte do ERP e serviços de help desk estão nas mãos de parceiros. “Com isso, a TI é mais enxuta e mais próxima de outras áreas para fornecer inovações que façam a W. Torre se diferenciar de outras”, comenta.
Com essas mudanças, o talento se tornou essencial. A empresa fornece planos de carreira, desafios constantes em novos projetos e reconhecimento profissional. O mercado mudou, a tecnologia é tão essencial que a TI não pode ficar presa aos modelos. A empresa precisa de tecnologia e os profissionais de TI querem dar isso. “Se conseguirmos juntar isso, conseguimos controlar a falta de mão de obra”, destaca Garcia.
Fonte: CRN