segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
A globalização e o avanço da tecnologia exigem uma nova postura do CIO. Agora, ele precisa ser um estrategista capaz de mirar em resultados – e não mais um simples expert em informática.
Por Frank Dorr e Claudio Elsas, sócios-diretores da Lodestone Management Consultants
Estamos vivendo uma nova era no mundo corporativo – a chamada “Era das Redes de Negócios”. Caracterizada pelo surgimento de tecnologias heterogêneas, como os smartphones, tablets, aplicativos diversos, blogs, redes sociais, plataformas de colaboração, sistemas de análise inteligente de dados etc., esta nova era apresenta como grande desafio a inserção de uma série de novidades nas operações já existentes e nos novos empreendimentos das empresas. E uma dessas novidades – a principal delas – é um novo paradigma no conceito da Tecnologia de Informação (TI).
O paradigma do passado era de que a TI era muito mais uma barreira para o sucesso de um empresa do que um fator de desenvolvimento. Frequentemente, quando o presidente – ou Chief Executivo Officer (CEO) – precisava mudar seus modelos de negócios, ouvia frases do tipo: “Excelente ideia, Sr. Presidente, mas infelizmente a mudança no sistema não é viável, é extremamente complexa e demoraria demais”. Por isso, a TI era muito mais associada a entraves do que a soluções de negócios.
Hoje em dia, com a explosão da inovação tecnológica, esse cenário mudou. O paradigma é outro. A TI não só deixou de ser uma barreira como passou a ser sinônimo de oportunidades de negócios, inovação e competitividade. Que o digam as plataformas de e-commerce, que permitiram às lojas físicas uma atuação nacional ou até global. Se, hoje, o pequeno empresário pode concorrer com o grande, isso se deve principalmente à tecnologia.
Segundo o estudo “Next Generation CIO”, realizado entre 2007 e 2011 pela Universidade Alemã Ingolstadt University of Applied Sciences e publicado recentemente, as macrotendências globais ajudaram a desencadear essa mudança de paradigma no setor TI.
A primeira macrotendência aponta para a necessidade de centralizar e harmonizar sistemas de gestão (ERPs) diferentes dentro da empresa. A globalização e o advento da internet nos processos de negócios deixou um legado: a necessidade de operar em diferentes regiões (com legislações e mercados específicos), países com culturas diversas e, ainda, consolidação de dados em fusões/aquisições. Em termos de tecnologia, restaram sistemas heterogêneos e tipos de tecnologia diversos, que precisam ser ajustados para poderem trocar dados entre si. E mais: é preciso incorporar as novas tecnologias emergentes. Mas como integrar e harmonizar inúmeros sistemas diferentes? Como gerenciar informações unificadamente? De acordo com o estudo, as empresas com atuação global irão operar com, no máximo, cinco sistemas de gestão empresarial. Algumas corporações já atuam com sucesso tendo apenas um ERP em operações globais. A consolidação de tecnologias, plataformas ou sistemas é necessária para o bem da empresa.
A segunda mudança mostra a necessidade de integrar os stakeholders. No futuro, o valor agregado será criado a partir da associação de clientes, parceiros e fornecedores. Ou seja: será preciso envolvê-los cada vez mais no coração dos processos de negócios. Como resultado, a cadeia de valor progredirá para redes de cadeias de valor. Logo, para poder manter e aumentar a qualidade dos produtos, serviços e processos, a área de tecnologia precisará atender às mais altas e diferentes demandas de integração dos processos de tecnologia.
Em terceiro lugar está o aumento do número de novas tecnologias. Se você acha que já temos muitas, saiba que o estudo “Next Generation CIO” indica que cerca de 50 novas tecnologias devem surgir num futuro próximo. Na prática, o CIO precisará gerenciar muitos projetos simultaneamente, o que tornará o processo de priorização cada vez mais complexo. Além disso, será necessário que ele e o presidente avaliem a relação custo/benefício das inovações e os riscos para o negócio.
A última tendência é a de aumento da dependência tecnológica das corporações. Hoje, 59% das operações empresariais não funcionam sem tecnologia. Até 2015, esse percentual será de 88%. Esse dado apenas consolida um fato que já conhecemos: a TI deixou de ser secundária e passou a ser primária. Quase 90% das operações serão dependentes da tecnologia no futuro – ou seja, a TI será a base do sucesso e da eficiência da maioria das operações produtivas.
O valor que o empresário dá à tecnologia pode fazer a diferença entre o sucesso ou o fracasso de uma empresa. Nesse cenário, o diretor de tecnologia ou CIO passa a ter um papel ainda mais crucial. As empresas de sucesso no futuro — independentemente do seu porte — serão aquelas que tiverem um CIO proativo, com perfil mais integrador e bem relacionado. Esse profissional deixará de ser um subordinado do diretor financeiro e passará a se reportar diretamente ao presidente. Ele não será mais somente o expert em TI, mas também um estrategista, um gestor de mudanças que contribui para os resultados. Deixará de ser um diretor de Tecnologia de Informação (Chief Information Officer) para atuar como um diretor de integração tecnológica (Chief Integration Officer).
Portanto, é hora de rever conceitos. Se você é CEO, precisa prestar mais atenção ao seu profissional de TI e trazê-lo para o centro de decisões da sua empresa. É necessário envolvê-lo em suas estratégias e torná-lo seu aliado. A Era das Redes de Negócios já está aí. Será cada vez menos comum ouvirmos frases do tipo “não podemos mudar, o sistema não suporta”. No futuro, a fala ideal dos CIOs será mais ou menos assim: “Sr. presidente, surgiu uma nova tecnologia no mercado e, se implementada, nos possibilitará um incremento de alguns milhões nos resultados financeiros. Que tal?”.
Fonte: Revista Digital